Madeira Island Ultra Trail (MIUT) 2011 - Crónica de Carlos Rocha
CARLOS ROCHA - 7 ANOS DE PORTO RUNNERS
E
MADEIRA ISLAND ULTRA TRAIL 2011 - 100km
14-05-2011
O meu percurso no Porto Runners até MIUT 2011…
A pedido de alguns colegas vou tentar escrever algumas palavras sobre a prova - Madeira Island Ultra Trail (MIUT) 2011. Para começar fica aqui um aviso:
IMPORTANTE: Não quero com este texto convencer a pessoas a realizar Ultra Provas em terrenos acidentados. A pessoa que mais tem dinamizado este tipo de provas em Portugal, apelida-as de “Provas de Aventura”. São provas que representam algum perigo a nossa integridade física, devidos as condições do terreno, aspectos do clima e a nossa preparação, existe sim algum risco de vida. Acho que o ideal para todos nós, seria praticarmos treinos de ½ horas junto a praia e três vezes por semana. De qualquer forma vivemos num país livre em que podemos decidir os objectivos que queremos alcançar, de forma a não prejudicar os outros, mesmo que para isso ultrapassemos determinadas dificuldades.
Em 2003 tive que parar as corridas e recomecei no final desse ano com as mesmas provas do ano anterior. Em Maio de 2004 conheci o Porto Runners e começou assim o meu percurso pelo mundo das corridas onde continuo até hoje e espero ter saúde, vontade e disponibilidade para continuar durante mais alguns anos.
No Porto Runners conheci pessoas como a Paula Santos, José Ferreira e muitas outras, com quem aprendi muito, mas no fundo, no fundo não sei quase nada sobre corrida. Todos os dias aprendo qualquer coisa nova, ou seja com os meus erros, com os outros atletas mais experientes, com os treinos, com as respectivas provas e vou tentar passar alguma da minha experiência no Ultra Trail de 100 km que realizei no dia 14 de Maio de 2011, na Ilha da Madeira.
Cheguei à Madeira no dia 11 de Maio e aproveitei 2 dias de férias para conhecer um pouco da Ilha. Na sexta-feira dia 13 a tarde, tive que fazer o check-in, apresentar o material obrigatório e entregar 2 declarações assinadas por mim: “Registo Médico” e “Termo de Responsabilidade” a assumir qualquer risco antes, durante e depois da prova, assim como desresponsabilizar a organização dessa prova.
As 5:30 horas de sábado dirigi-me para a partida, fizemos um “Reset” ao chip da prova e as 6:00 horas em ponto foi dado o início da prova.
Começamos a correr pelas ruas de Porto Moniz junto ao mar, passadas poucas centenas de metros já estávamos a subir por uma rua qualquer onde rapidamente chegamos a primeira de muitas escadarias desta prova.
Por esta imagem dá para reparar no esforço que já se fazia no primeiro quilómetro de prova. Ainda não sabia o que me esperava pela frente nos próximos 49 km. Ao fundo ainda se via a luzes de Porto Moniz num início de madrugada fresco e húmido por causa do nevoeiro. Na Ilha encontramos um clima tropical húmido que se manteve até as 13:00 horas.
Para descansar um pouco desta subida, vamos voltar novamente ao meu percurso no Porto Runners:
- Após a minha primeira maratona de estrada em Abril de 2005, lá consegui perder esses quilos a mais e desenrascar melhor nas pequenas provas de montanha que ia realizando pelo Norte de Portugal.
- No início ano de 2007 perguntei ao nosso colega Antonio Oliveira, com muita experiência em Ultras,qual a 1ª prova mais longa de montanha me aconselhava a realizar: a Freita ou a Transestrela? Era o início das minhas aventuras nas distâncias superiores a 21 km em montanha: Transestrela com 42 km.
- Nesse ano de 2007, o Porto Runners teve uma das maiores participações nesta maratona de montanha a Transestrela: 2 senhoras e 14 homens. Nas fotos vemos outros colegas que participaram na maratona e na caminhada de 20 km.
- Em 2008 participei em mais duas provas longas de montanha: Geira Romana no Gerês com 45 km e só agora no Ultra Trail da Serra da Freita com 50 km.
- Em 2009 por lesão não participei em nenhuma prova de montanha e no início de 2010, no dia 3 de Janeiro já estava em Valongo a fazer um treino para matar saudades.
- Em 2010 participei outra vez na Geira Romana, desta vez com 50 km e a seguir voltei a Freita, mas desta vez com 70 km, muito, muito duros. A Freita com esta distância deu-me 2 pontos para uma prova de sonho para mim – UTMB, mais tarde falo sobre esta prova. Antes do fim das férias ainda fui a Óbidos participar: II Trail Nocturnoda Lagoa de Óbidos com 42 km de extensão.
Voltamos mais uma vez a Ilha da Madeira para ver como vão os primeiros 50 km de prova: as coisas vão mesmo muito devagar. Nos primeiros 49,7 km apanhamos um desnível acumulado positivo de 4240 metros ou seja fizemos várias subidas que somadas deram aquele número gigante de 4240 metros. Abaixo coloquei uma imagem com todos esses dados:
Voltando atrás um pouco, ao km 38,9, a organização levou um saco com a roupa que quiséssemos no Posto de Controlo Nº 3. Durante a manhã apanhamos chuva e frio, agora as 13:00 horas o tempo apresentava melhorias. Tive de fazer uma opção para a tarde, perguntei CP3 como estava o tempo por aquelas bandas, disseram que estava sol e por isso optei por continuar a correr com a camisola de manga cumprida. Sabia que a noite iria arrefecer, mas ainda tinha comigo o casaco seco caso precisa-se. Foi uma boa opção porque puxava as mangas para trás caso estivesse quente ou para a frente quando arrefecia. A Ilha é conhecida pelos seus microclimas que variam durante o diana diferentes zonas.
Quando cheguei aos 90 km apanhamos 2 descidas muito técnicas que deram cabo do que ainda restava nas minhas pernas.A partir daqui foi caminhar a lado das levadas durante muitos quilómetros até que chegamos a um estradão. Talvez por estarmos próximo de alguma casa, mas naquela hora era difícil conseguir ver alguns metros devido ao nevoeiro, já existia alguns candeeiros públicos. Quando não havia candeeiros, o frontal mesmo com no mínimo de intensidade, a luz reflectia nas partículas de água do nevoeiro e não se conseguia ver o chão.Sabíamos que estávamos a pisar a berma quando pisávamos algumas pedras soltas. Passado pouco tempo ouvimos um som maravilhoso para os nossos ouvidos: o MAR, já estaria próximo do final da prova. Mas o certo era que caminhava, descia, caminhava e não via nem mar nem nenhuma luz de Porto Moniz.
No início da noite houve um pequeno percalço que podia ter-me causado muitos problemas: no regulamento da prova dizia que éramos obrigados a levarmos 2 frontais ou lanternas e 2 jogos de pilhas suplentes. Foi o que me valeu depois de escurecer, tinha comprado um frontal novo com uma luz espectacular e que funcionou bem durante a madrugada. A noite quando voltei a utiliza-lo, começou por variar a intensidade do brilho e mais tarde passou a desligar-se. Substitui as pilhas mas o problema manteve-se e continuava a desligar-se. Utilizei o meu velhinho frontal até ao final da prova sem problemas. Se não tivesse cumprido o regulamento, as coisas iriam ficar mesmo muito escuras. Fica aqui um conselho para quem vier a fazer alguma prova com muitas horas de noite ou se tiver de usar a luz artificial de madrugada e a noite novamente: levar sempre 2 frontais.
Bom quando avistei as luzes de Porto Moniz foi uma alegria e estimulo para acabar a prova, só que ainda tinha de descer por algumas ruas que por incrível que pareça, ainda com alguma dificuldadetécnica, desde de degraus feitos com pedras tipo seixos molhados e escorregadios, até descidas íngremes com degraus junto as casas. Já dentro de Porto Moniz lá consegui dar uns passos de corrida até a meta, atrás de um atleta que tinha acabado de passar por mim na descida.
E a 1:40 hora da manhã de domingo estava a marcar o chip na última base junto a meta, debaixo de algumas palmas dos acompanhantes dos atletas e incentivos do nosso mestre José Moutinho que não abandonou o seu posto até ao fim da prova.
Tinha acabado de cumprir um objectivo do ano 2011, conquistar os 3 pontos em falta que me permite fazer a inscrição para o UTMB – 2012: Ultra-TrailduMont-Blanc. Qualquer coisa como 166 km e 9500 metros de desnível positivo. Para isso é necessário fazer a pré-inscrição com 5 pontos no final do anoe depois temos a sorte de sermos sorteados com a inscrição. Mas isso será outra história para contar, se um dia chegar a realizaressa prova.
Alguém me perguntava como se treina para uma prova destas. Na minha modesta opinião, acho que se deve ter alguns anos de atletismo, mas há excepções. No meu caso são 7 anos que se passaram desde que conheci o Porto Runners. Este ano a minha preparação começou com a continuação do plano de 12 semanas de preparação para a maratona de Sevilha em 13 de Fevereiro. Fiz antes uma prova de 10 km em Gaia, dia 9 de Janeiro e uma meia maratona de Viana em 24 de Janeiro. Depois de recuperar uma semana a seguir a maratona, continuei a treinar segundo o plano do nosso amigo Juvenal Ribeiro, para a maratona de Milão no dia 14 de Abril. Antes de Sevilha, dei uma volta a cidade do Porto para realizar um treino de 3 horas. Voltei a repetir com o grupo outro treino de 3 horas desde o Fluvial até Gaia e retorno como preparação para Milão. Por fim queria agradecer aos nossos amigos João Mota Freitas e ao Luis Pires pela excelente ideia de voltarem a repetir o treino no dia 1 de Maio, a maratona do Parque da Cidade ou seja 10 voltas ao Parque o equivalente a 45 Km. Foi o último treino longo 2 semanas antes do Ultra Trail. Mais um conselho para quem for a Madeira: treinar muito nas escadas do Guindais, subir e descer, treinar de dia e de noite, principalmente quando estiver a chover também de dia e de noite. Não é para levar a letra porque não fui lá treinar nenhuma vez.
Em relação a alimentação durante a prova, a organização obrigava a levarmos 1 gel e 1 chocolate. Eu levei 6 mini barras da Isostar, 4 Gels e 6 comprimidos também da Isostar. Consumi 2 mini barras e 4 comprimidos para desfazer na boca. Os gels não cheguei a usar mas por prevenção era melhor tê-los connosco. Havia na prova 8 postos de controlo e ao mesmo tempo de abastecimentos. Quatro desses postos só tinham líquidos: água, coca-cola e isotónico: nos postos CP1, CP4, CP6, CP8 e nos outros 4 postos CP2, CP3, CP5, CP7, tinham líquidos e sólidos como por exemplo: canja de galinha, chá, pão, queijo, bolo de mel, chocolates, frutos secos, etc. Talvez por haver tanta comida e simpatia dos voluntários, eu acabava por perder muito tempo nesses postos de controlo e abastecimentos. Tivemos um 9 posto de controlo surpresa só com base para marcar o chip.
Por fim a minha recuperação está a decorrer normalmente, na primeira semana fiz um treino de bicicleta na quarta-feira e corri um pouco na quinta-feira. Voltei a correr sábado e domingo mas de forma muito lenta. Na segunda semana corri terça, quinta, sábado e domingo. Terminei a prova muito dolorido, com uma pequena bolha e uma unha negra no pé direito.Antes de me deitar, tomei uma aspirina e por sortefoi a nossa amiga Conceição Grare que me acordou para o pequeno-almoço, com a sua habitual preocupação para com todos nós.
Para não me alongar mais, quero agradecer a todos os colegas e amigos do Porto Runners – Clube de Corrida sem excepção, todo o apoio e incentivo que me têm dado, ao longo destes anos, nos treinos e nas mais diversas provas que tenho participado.