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Campeonato da Europa de Triatlo Longo - Crónica Rui Costa

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Campeonato da Europa de Triatlo Longo

26 de Junho de 2010

 

(Crónica de Rui Costa)

 

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De todas as provas realizadas por mim esta foi, sem dúvida, o meu maior desafio. Primeiro porque o tempo de duração da prova ia rondar as 7 horas e eu nunca tinha feito provas com tempo de duração superior a 5 horas. Segundo, pela distância de natação. Também aqui nunca tinha feito, em prova, mais de 1900 metros e agora estava a enfrentar 4000 metros de natação. A bóia de retorno estava tão longe que somente a meio do percurso é que a consegui ver. Terceiro, pela distância do segmento de ciclismo, 121,8 km é tanto como do Porto a Coimbra.

 

Com a preparação, treinos e provas realizadas adquiri experiência suficiente para ponderar o esforço a realizar em cada um dos segmentos para, e em primeiro lugar, acabar bem a prova e em segundo lugar para deixar uma boa imagem e uma boa prestação, visto que também estava ali em representação das cores de Portugal.

Nestas provas tudo é possível. Medir bem o esforço e estar com a consciência plena das nossas capacidades é fundamental. Puxar em demasia num segmento pode comprometer o segmento seguinte, sendo que é no segmento final de corrida que um triatleta é avaliado pelos seus juízos de valor. Ter de enfrentar 30 km totalmente desgastado, sem forças para correr ou ter de ir a passo para acabar a prova era coisa que não me agradava, sendo certo que queria acabar de pé e não de rastos.

A prova começou com a partida das elites e seguiram-se os Age-Groups. O Age-Group 30-34 contava com 29 triatletas de toda a Europa sendo que o país com maior representação era a Espanha que corria em casa.

O segmento de natação foi dentro do que tinha estipulado, 1h16 a fazer cada 100 metros em 1m55s. Era o tempo para o qual estava preparado, não me adiantava nada tentar fazer melhor pois poderia comprometer a restante prova que ainda estava a começar.

Assim que saí da água senti uma alegria imensa por ter conseguido nadar os 4000 metros dentro do tempo proposto, apesar de ter saído tarde, sabia que não era o último do meu Age-Group, pois tinha passado pelo menos 3 triatletas na água e isso serviu de incentivo.

Assim que comecei o segmento de ciclismo percebi que, mesmo assim, o esforço feito na natação tinha sido muito pois tinha as pernas pesadas, quanto maior a actividade muscular, mais ácido láctico se acumula nos músculos, tornando-os fatigados e incapazes de contrairem-se, produzindo cansaço e até cãibras.

Para evitar que surgissem cãibras era necessário adoptar um ritmo de ciclismo moderado, com rotações elevadas e boa alimentação líquida e sólida para repor o que tinha gasto na natação. Os primeiros 30 kms serviram para fazer essa gestão, somente a partir do km 30 é que comecei a adoptar um ritmo mais vivo na bicicleta e cadências mais pesadas, sempre sem desgastar muito, pois o pior (ou melhor) ainda estava para vir.

Verdade é que o segmento de ciclismo estava longe de ser brilhante, estava a ser passado por outros triatletas e tive de me conter para não aumentar o ritmo, optei por continuar a fazer uma correcta gestão do esforço. Comecei com uma média de 31 km/h e acabei com uma média de 33 km/h, mesmo assim, muito longe das médias de 37 km/h dos triatlos longos de Lisboa e Aveiro, comecei o segmento em 24º e acabei em 24º, nada de especial. Não me arrependo de nada, fiz a média que acreditei ser a correcta para estar bem na corrida.

Parti para a corrida muito forte, sem cansaço muscular, com determinação, sem dores, sem cãibras, estava como novo. Logo nos primeiros 5kms deu para subir 20 posições na geral, deu para ver todos aqueles que me passaram no ciclismo a passo ou parados agarrados às pernas a fazerem alongamentos. Uma sensação de bem-estar ia-se apoderando de mim e fui aumentando ligeiramente o ritmo. A meia da corrida, aos 15km, já tinha subido mais 20 posições, estava realmente muito bem e decidi arriscar um pouco mais. Subi o ritmo e então, já na parte final, à passagem dos 25kms estava em 12º no meu Age-Group e tinha subido mais 20 posições na geral. Estava a ser uma corrida verdadeiramente fantástica, tal como tinha sonhado e na parte final ainda deu para ir buscar o 11º lugar no Age-Group 30-34 e o 41º lugar na geral, numa escalada de 61 posições na corrida.

Tempo final 7h11m27s não é um tempo brilhante, mas é um bom tempo para uma prova de estreia em campeonatos da Europa e para dignificar a representação Portuguesa.

Neste tipo de provas, que engloba a representação de um país, a carga emocional é grande e há uma enorme tendência para o exagero, para o esforço desmedido, por vezes com consequências graves. Nem todos conseguiram terminar a prova e vi, pelo menos, 6 triatletas a receberem tratamento de soro no final da prova. Em provas de triatlo longo é necessário saber medir bem o esforço para não se terminar a passo ou bem pior. Terminar em grande é sempre a melhor maneira para evoluir, pois fica sempre a sensação que podemos e vamos fazer melhor, que da próxima vez é que é e que podemos mesmo trazer o caneco.

Não posso deixar de agradecer a todos os amigos e companheiros que me ajudaram na preparação, quer ao pessoal de Ovar (CAO), quer aos companheiros do Porto Runners, todos sempre deram grande apoio. Um agradecimento especial ao Mister Domingos Pinto, pôr um tijolo a nadar 4km em 1h16 e com forças para fazer o resto da prova, é obra, e um outro agradecimento especial ao Mister António Branco que fez com que conseguisse voar na corrida, ao fim de 5h de prova consegui fazer os 30kms a 4.25min/km permitindo a grande recuperação de 61 posições na geral e 13 posições no Age-Group 30-34.

Á minha mulher e ao meu filho agradeço por me acompanharem nestas grandes aventuras porque sem eles nada era possível.

Rui Costa